No ano 70 de nossa era, com a invasão do exército romano liderado pelo general Tito, o Templo Sagrado foi destruído e a maior parte do povo judeu foi dispersa pelo mundo afora. Avançando um pouco na história, vemos no século XV, na Espanha, mais precisamente no ano de 1492, que os judeus que ali buscaram refúgio, foram expulsos pelos reis católicos e com a aprovação do então Papa Xisto IV. Como consequência, 120 mil judeus foram para Portugal. Mas este "abrigo" não saiu de graça, pois os judeus tiveram que pagar um alto preço para estabelecerem-se ali, pagando 8 ducados de ouro à Coroa Portuguesa. Os judeus que não podiam pagar a quantia estipulada, tinham metade de seus bens confiscados.
Durante anos a fio o povo judeu andou errante procurando um lugar para viverem em paz, já que haviam sido expulsos de sua Terra. Curioso é notar que por onde passaram, de tempos em tempos, levantava-se uma perseguição local e além de serem humilhados e mortos muitas e muitas vezes, a perseverança pela sobrevivência nunca cessou.
Com a união da família real portuguesa com a família real espanhola, através do casamento da filha de um rei católico espanhol com D. manuel, rei de Portugal, torna a permanência judaica em Portugal, um tanto complicada, pois uma das condições impostas pela Coroa Espanhola para que o casamento fosse realizado era que Portugal adotasse as leis da Inquisição praticadas na Espanha.
O rei de Portugal resolveu, então, forçar a conversão dos judeus ao catolicismo romano, em vez de expulsá-los, até porque, esta decisão teve como base o interesse de Portugal que estava sendo beneficiado com os grandes profissionais judeus que estavam contribuindo para o crescimento do país. Os judeus que permaneceram em Portugal, tiveram seus bens confiscados e pagavam caros impostos para obter o direito de ali permanecer.
E o que acontecia com os judeus que se recusavam a tais exigências da Coroa Portuguesa? Bem..., estes eram julgados, condenados e executados nas fogueiras inquisitórias. Por isso, a maioria dos judeus "converteram-se" à força. Tudo para terem sua vida preservada. Outros, porém aceitaram realmente o catolicismo com sua religião, sendo assim, chamados de cristãos-novos. Havia, contudo judeus que aparentemente seguia ao catolicismo, mas em secreto, continuavam praticando o judaísmo, sendo chamados de cripto-judeus/marranos.
O auge da Inquisição portuguesa ocorreu nos séculos XVI e XVII. Como os portugueses alcançaram o Brasil no século XVI, podemos pontuar que foi justamente no auge da Inquisição que vários judeus vieram para o Brasil junto com os portugueses, até porque, muitos deles trabalhavam para a Coroa. Assim, na comitiva de Cabral estava dentre alguns judeus, o famoso Fernando de Noronha. Aqui, trabalharam com o cultivo da cana-de-açúcar e na sua exportação.
Mas por aqui, a perseguição também se fez presente, através da visitação do Santo Ofício. Em 1624 foram executados em Lisboa 25 judeus que aqui estavam. No nordeste, uma batalha foi travada onde os holandeses vencem e dominaram Recife e uma parte do nordeste, afinal, os olhos dos pioneiros das navegações estavam postos na nova terra cheia de riquesas! Com isso, muitos judeus que viviam na Holanda vêm para o Brasil e junto vem também o rabino Itschac Aboab, o primeiro das Américas!
Após um tempo, os holandeses foram expulsos do Brasil e a comunidade judaica sai também. 150 famílias judias deixam a cidade de Recife e 23 judeus, que iam para Amsterdã, foram interceptados por espanhóis, e assim são aprisiondados na Jamaica, sendo libertos pelos franceses que íam para a América do Norte. Este grupo de judeus ajudou a fundar a cidade de Nova York.
Em 1774, enfim, cessa a Inquisição no Brasil! Em 1821, tem fim também em Portugal. O tempo passou..., a Inquisição acabou, porém é curioso notar que, hoje, vemos um pré-conceito, infundado, com relação aos judeus que descendem dos cristãos-novos e dos marranos. Pré-conceito este, que é praticado por muitos judeus de diversos ramos do judaísmo.
Há quem diga, ainda que tal afirmação seja errônea, que os judeus descendentes dos cristãos-novos e marranos, não sejam judeus "legímos"! Tal afirmação é totalmente infundada!
Ora, não é o descendente de judeu um judeu? Claro que sim! Este tem em seu sangue, em sua história genealógica tal herança! Assim como um índio, ainda que tenha sido gerado e criado numa sociedade não indígena, com outros costumes, alheio a sua cultura primária, não deixa de ser um índio. E se este índio é movido por uma "força interior", uma afinidade que surge em algum momento de sua vida a praticar a cultura indígena, ainda que sem saber que a tal pertença, e mais tarde descobre e prossegue nesta prática, não seria isto a restauração de sua identidade indígena? Claro que sim! Pois assim também ocorre com os judeus e judias que pelos motivos históricos já mencionados, são movidos "naturalmente" a sua cultura e sua fé. Mais tarde, descobrem então, que fazem parte de tal povo, através de pesquisas na história de suas famílias, em pesquisas genealógicas, etc. E assim, passa a entender como as coisas se "encaixam" perfeitamente, e sentem-se confortáveis e familiarizados em sua original cultura e fé! Porém se deparam com uma não aceitação de sua identidade judaica por pessoas de seu próprio povo, que por motivos diversos que só D'us sabe, julgam-nas pessoas de "fora" querendo parecer que são, mas não sendo em sua origem, judeus e judias!
Alguém pode dizer: Mas esta questão genealógica não é o mais importante na vida. E eu digo: Realmente, a questão genealógica não é o mais importante na vida de alguém. O mais importante é ter fé e seguir o D'us Único, O Criador, e ao Mashiach prometido nas Escrituras, bem como os mandamentos do Pai. Porém, trato deste assunto, sobre a identidade judaica, por ser algo que, como já dito aqui, tem sido motivo para algumas pessoas sentirem-se "podadas" com receio da não aceitação e discriminação por parte de outros judeus. É por isso que se faz necessário, ao meu ver, um esclarecimento no objetivo de levar a uma reflexão crítica e esclarecedora deste assunto que é fato em nossos dias, colaborando assim para o combate de tal pré-conceito, que como já disse é infundado.
Esta é a triste realidade que merece ser pontuada e denunciada em seu erro e que tem gerado em muitos judeus e judias um certo acanhamento, quanto a assumir sua identidade judaica em público, e principalmente quando há um suposto judeu "legítmo" por perto! pois receiam ser tratados com tal discriminação. Porém quero aproveitar este espaço para declarar aos meus irmãos e irmãs, judeus e judias, descendentes dos cristãos-novos e marranos, que não se acanhem em assumir publicamente,
sempre que necessário, sua identidade judaica, que é legítima de fato e de direito!
Descobri minha identidade judaica aos poucos. Tudo começou com minha entrega total ao D'us de Israel e a obediência às Sagradas Escrituas, seguindo com prazer a Sua Lei e os Seus mandamentos, bem como crendo no Mashiach Yeshua conforme profetizados nas Escrituras! Fora isso, uma total afinidade com a cultura judaica, o amor a Erets Israel e à Yerushalayim! Mais tarde, através de pesquisas em família buscando dados genealógicos e comparando com a história, tomei ciência de que minha família tanto do lado materno quanto paterno descendem dos marranos e cristãos-novos.
Hoje, tenho certeza de minha identidade judaica a despeito de qualquer indiferença ou fala contrária de quem quer que seja.
Em tudo isso reconheço que a mão do Eterno me conduziu em Sua direção, em primeiro lugar, e depois à Teshuvah completa! Baruch HaShem!
O D'us de Israel é o sentido da minha existência e os Seus ensinos o prazer da mimha alma!
Shalom!
Hadassah Chai (Tatiana dos Santos Calado)